Preparação e Educação para o Nascimento

O início da vida começa quando um casal se une e dessa ligação brota no ventre da mulher um novo ser, que é amado desde o dia em que é percebido pelos seus progenitores. As dúvidas surgem e talvez por isso, aqui estamos nós... Estimulopraxis - Telheiras Tel. 21 7104130 Zuddhakidz - Lumiar Tel. 916 292 881

domingo

O porquê da educação para a autonomia

A autonomia tem por base o grau de segurança que se estabelece no 1º relacionamento social, ou seja, mãe/pai/bebé. Este é considerado o ingrediente mais influente na criação dos protótipos internos que ajudaram a moldar todos os laços interpessoais íntimos formados pelo indivíduo nos anos seguintes.
É fundamental ser o bebé tomar o comando na interacção, de forma a permitir reforçar o seu sentimento de competência e assume a possibilidade de controlar voluntariamente todo o seu desenvolvimento. Como resultado, a criança percepciona-se como competente e segura.
Uma criança segura, é uma criança consequentemente mais competente e mais madura social e cognitivamente, conduzindo a uma elevada auto-estima e um maior auto conhecimento, transportando para a personalidade da criança uma maior versatilidade, cooperação, sociabilidade, popularidade, confiança, tolerância à frustração, controlo de impulsos, capacidade na resolução de problemas e consequente independência.
Uma criança super protegida é uma criança obrigatoriamente, a meu ver, infantilizada exacerbadamente, que não tem autonomia, não tendo competências para enfrentar o mundo real. Não terá maturidade nas brincadeiras, curiosidade para aprender, necessidade de procura, diminuindo o seu entusiasmo pelo o que a rodeia, que afectará a sua capacidade em perceber e solucionar todos os problemas que se vai deparando. Assim, estas crianças tornam-se dependentes de outros para conseguirem atingir os objectivos que lhe são exigidos. Crianças dependentes serão adolescentes com maiores dificuldades, essencialmente no que diz respeito à tolerância à frustração, que as podem levar a seguir caminhos diversos dependendo não só dessa educação parental, como também da relação com os seus pares. Tudo isso irá influenciar o que serão quando adultos, podendo se tornar realmente independentes, mas a que custo!
Mas será que existem idades próprias para fazer determinadas aquisições? Por exemplo, deixar de mamar, dormir sozinho, comer sem ajuda ou largar as fraldas?
Na minha opinião, não existem limites para a amamentação. É de conhecimento geral a importância para a criança do leite materno, mas para além de alimento, é um excelente meio de vinculação mãe bebé, que se poderá prolongar no tempo, enquanto a díade achar conveniente.
É importante desde o nascimento que os pais ensinem o bebé a dormir, sendo capazes de se distanciar dele, dando-lhe a oportunidade de aprender a tornar-se independente durante o sono. O bebé precisa de ter confiança para aprender a confortar-se sozinho para conseguir adormecer sem intervenção de outrem. Este é um longo caminho para a autonomia, que não deve ser radical, pois durante nove meses, este esteve habituado a ser embalado com movimentos, cheiros e vozes. Progressivamente, cabe aos pais, consoante a criança e a sua maturação, indicar-lhes o caminho para a independência. A criança deverá ser deitada no berço, sonolenta com os pais por perto, fazendo-lhe festas, falando com ela, incutindo-lhe a capacidade de adormecer sozinho, com palavras de reforço. Progressivamente e através de rotinas, esta intervenção vai diminuindo, consoante as necessidades do próprio bebé, encorajando-a a utilizar os seus próprios métodos, tornando-se esta autónoma.
Quando é feita a introdução dos sólidos, as crianças devem começar a comer numa cadeira de frente para os pais, mantendo sempre o contacto visual. Deve ser dada à criança a oportunidade de mexer, cheirar os alimentos que lhe são oferecidos de forma a que esta não se sinta enganada devido às diferenças existentes entre este tipo de alimentação e a anterior. Deve igualmente ser oferecida uma colher à criança, para que ela própria imite os pais, oferecendo-lhes comida também a eles. Quando o desenvolvimento motor estiver mais integrado e a criança tenha a capacidade de pinçar correctamente e levar a mão à boca eficazmente, tudo isso acaba por acontecer naturalmente pela própria necessidade que a criança tem de o fazer.
Só a criança pode decidir quando chegou a altura de controlar as suas necessidades. Antes de tudo isso é necessário que a criança tenha atingido outras importantes capacidades cognitivas, que a permitam fazer a aprendizagem do controlo de necessidades, que normalmente só acontece por volta dos 2/3 anos. Assim é importante dar a conhecer à criança a existência do bacio, demonstrarem à criança as rotinas diárias da ida ao bacio, explicando-lhe que também os pais o faz todos os dias, deixando a criança mostrar interesse e estabelecer a altura indicada para passar à fase seguinte, sem pressões. Cabe apenas aos pais mostrar o caminho para que ela por si própria treine sozinha, tendo como trunfo a necessidade que os filhos têm de imitar e identificarem-se com os pais que constituem a sua referência.
O que acontece normalmente nestes casos, é que os pais querem que as crianças sejam autónomas de um momento para o outro, sem nunca lhes terem ensinado como isso se faz.
É necessário que a autonomia lhes seja ensinado, assim como aprenderam a falar, andar, ou seja, como todas as aquisições. A autonomia é uma aquisição como tantas outras.
Uma criança habituada à amamentação, que lhe seja retirada abruptamente terá dificuldades em gerir essa frustração, sendo necessário que esta seja feita progressivamente, o que não acontece muitas das vezes.
No que diz respeito a dormir sozinho, só bastante tarde os pais se lembram da importância desta capacidade e querem que eles o façam logo que sentem essa necessidade, surgindo frustrações de ambos os lados que acabam por conduzir a lugar algum. O mesmo se passa com o largar das fraldas. As crianças ficam impacientes, fazem birras, rejeitam o bacio, por serem excessivamente pressionados para uma aquisição rápida, só porque simplesmente os pais acham que chegou a altura.
Quanto ao comer sozinhos, muitas das vezes quando a criança demonstra interesse e curiosidade nos alimentos, tudo isso lhe é negado, não lhe dando hipótese de escolha, sendo transmitindo à criança que isso não é da sua competência, integrando a criança isso como regra. Tudo isso se tornará mais difícil, quando os pais, sem treino e familiarização o exigirem à criança.
Com o aumento das cidades, da população e da consequente insegurança e criminalidade, cada vez é menor o espaço que é dado à criança para explorar, não lhe sendo fornecido a noção do medo e consequentemente de limites transponíveis e intransponíveis. Com a (in)evolução das sociedades, cada vez mais os pais se tornam mais protectores ao nível físico, não permitindo ás crianças o conhecimento do ambiente que as envolve, não lhes dando a oportunidade de escolher o melhor ou o pior caminho. Tudo isso é lhes imposto e só mais tarde, tarde demais a meu ver, é lhes exigido sem “rede” enfrentar os perigos e ter capacidade de escolha. Desta forma, estas, não adquirem competências necessárias para o fazer da melhor forma. Ao mesmo tempo é dado à criança autonomia num reduzido espaço, como é o caso do ciberespaço, sem muitas vezes ser explicado os possíveis riscos por de trás de um ecrã. A criança não conhece a realidade do mundo em que vive, não reconhece os perigos escondidos, não tem medos e uma criança sem medos e sem conhecimento é uma criança em perigo e naturalmente em risco. Será em criança, em adolescente e muito provavelmente em adulto.
Parece-me igualmente relevante evidenciar a influência da falta de tempo existente nos dias de hoje, para uma educação para a autonomia. Embora exista cada vez mais informação e interesse por parte dos pais no que diz respeito à melhor forma de educar os seus filhos, a educação para a autonomia, exige tempo e empenho, que não existe muitas vezes, o que irá afectar toda essa conquista.

Rute Borges
Pais & Filhos - Abril 2006 (pg.80)

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