Preparação e Educação para o Nascimento

O início da vida começa quando um casal se une e dessa ligação brota no ventre da mulher um novo ser, que é amado desde o dia em que é percebido pelos seus progenitores. As dúvidas surgem e talvez por isso, aqui estamos nós... Estimulopraxis - Telheiras Tel. 21 7104130 Zuddhakidz - Lumiar Tel. 916 292 881

sábado

Nós no Rádio Clube Português


Vamos estar no Rádio Clube Português, no dia 2 de Julho às 16 Horas, 104.3!

Vamos falar da estimulopraxis e está claro, da Preparação e Educação para o Nascimento!

Conto convosco!

Rute Borges

A Importância da interacção mãe-bebé

Durante muitos anos, o recém-nascido era considerado como um ser incompetente, desorganizado, passivo, podendo ser totalmente moldado pelo que o rodeia.
Hoje, acredita-se que este, é um processador activo de informação, competente, com capacidades motoras, sensoriais e com um reportório de comportamentos sociais.
Para que tudo isto se faça com eficácia, Bowlby afirma, ser necessário existir um elo de ligação emocional de longa duração com um indivíduo, sendo este elo bastante forte e carregado de emoções, de forma a que o adulto, organize os sentimentos do bebé em relação ao meio envolvente. É com base nesta vinculação e no grau de confiança no primeiro relacionamento, que o bebé cria modelos interiores de funcionamento dos relacionamentos em geral.
A interacção da díade mãe-bebé, nos primeiros meses de vida, é vista por Brazelton como uma progressiva aquisição, por parte do bebé, pelo controlo da actividade motora, dos seus estados de consciência (sono profundo, sono leve, estado de sonolência, estado de alerta, estado de alerta agitado e choro), da receptividade aos estímulos exteriores, essencialmente dos proporcionados pelos adultos.
Na interacção existe o diálogo primário que fala spitz, onde subsistem trocas entre a mãe e o bebé, respostas, activas e passivas de ambos que conduzem a acções e reacções bilaterais. Estas trocas são possíveis, pois ambos possuem um reportório que permite que a vinculação se efectue. Assim, comportamentos desencadeados por um influenciam o comportamento do outro, sendo essencial para o bom desenvolvimento do bebé, a relação ser mutuamente satisfatória.
Segundo Winnicott, a mãe possuiu uma preocupação maternal primária que lhe permite estar sensível às necessidades do seu bebé, utilizando técnicas de interacção que assegurem o processo de desenvolvimento e de forma a compreender o comportamento do filho, baseadas nessas necessidades.
Cada bebé, aprende a combinar as suas próprias estratégias com a que os pais usam, descobrindo deste cedo, a forma de lidar com o choro e os outros estados, servindo de ponto de partida para lidar com os impulsos e os sentimentos. Desta forma, torna-se essencial que seja o bebé a dirigir essa interacção, permitindo à criança lidar com a frustração, reforçando o seu sentimento de competência, assumindo a possibilidade de controlar voluntariamente todo o seu desenvolvimento.
Tudo isto torna-se mais importante, quando o bebé apresenta sinais de hiper estimulação, ou seja, desvia o olhar, chora e parece entristecer. Mais não é do que cansaço, sendo necessário que os pais aprendam a reconhecer e respeitar estes sinais, dando ao bebé a possibilidade de experimentar os seus controladores internos. Ele voltará a pedir controlo externo quando assim o necessitar. Se pelo contrário, os pais lhe derem todo o conforto, não haverá aprendizagem. Na hipo estimulação, é necessário encontrar estímulos agradáveis ao bebé, que não o levem a fechar-se em si mesmo, que o motivem, o "chamem para a vida", para o prazer da interacção. A paternidade é no fundo, como diz Brazelton, um processo de tentativa e erro.
Ao adulto, cabe o papel de encoraja-lo a procurar sozinho e a reagir a estímulos que o envolvem. Como resultado, a criança percepciona-se como competente e que tem a capacidade de se auto controlar, fortalecendo-se, tornando-se uma criança segura.

Rute Borges

sexta-feira

Depressão Pós-Parto

A gravidez é “crise normal” maturativa, quer a nível biológico quer a nível psicológico constituindo uma época de muitas mudanças, susceptíveis de maior sensibilidade.

Durante a gravidez há mulheres que já apontam para a depressão pós-parto, nomeadamente em mulheres com vivências de mau estar e grande tristeza. A depressão pós-parto pode ter graves consequências a nível da mãe e do bebé, afectando muitas vezes a interacção.

Pode surgir apenas um síndrome afectivo ligeiro que afecta as mulheres que dão á luz, entre 39 e 85%, com os sintomas de irritabilidade, humor depressivo, perturbações do sono e do apetite, choro, hipersensibilidade, que pode durar desde algumas horas até uns dias depois do parto, e tal como aparece, desaparece.

Quando se prolonga para além do tempo normal passa a depressão pós-parto, em que a urgência imediata é a mobilização dos recursos familiares, principalmente porque esta mulher não deve estar só, quando está sozinha a angústia aumenta e sendo quase intolerável, afastando-se ainda mais do seu bebé. Muitas mulheres apresentam uma preocupação excessiva em não saber cuidar do bebé (logo o entregam a alguém para cuidar, acarretando com este facto uma grande culpabilidade), com a saúde do bebé ou hiperprotecção deste (falta de espaço para o bebé).

Segundo O’Hara, há determinadas mulheres que durante o período de gestação experimentam elevados graus de stress, e se não têm um companheiro que partilhe tarefas, havendo falta de apoio e pouca atenção – estas mulheres têm maior probabilidade de entrar em depressão pós-parto.

Estas mulheres sentem uma mudança, um abatimento físico, global, não sendo capazes de tomar decisões e responsabilidades. Sentem-se mal, tendo também uma preocupação excessiva consigo próprias, com a sua própria saúde. Não se deve deixar uma mãe deprimida sozinha com o seu bebé pois não sabem cuidar dele, podendo chegar a deixam o bebé a chorar horas a fio conseguirem querer saber dele.

Na maioria das depressões pós-parto, a remissão desta depressão simples faz-se espontaneamente passados alguns meses, mas tem que se ter em conta, não só as incidências da depressão, como as interacções precoces da mãe/bebé; se esta interacção precoce está perturbada, todos os processos de estruturação do eu, como auto-estima, estão comprometidos.

É importante lembrar que o papel organizador do pai é fundamental, e que criança é um agente activo nas interacções, pode ser mais ou menos vulnerável (pré-disposição) e entrar na linha de desenvolvimento, podendo ser afectado ou não.

Aquilo que se pode dizer é que quando se observa a díade mãe/bebé, é como se não houvesse um ajustamento suficiente entre mãe/bebé, não existe a tal sintonia desejável, as relações são não gratificantes para ambos (o pai pode ajudar ou não).

Concluindo, a depressão pós-parto pode ter consequências graves para a mãe e para a criança, sendo que ao nível da interacção e dinâmica familiares pode ser superada (dependendo obviamente da ajuda familiar, importância do pai, entre outros).

Rute Borges

terça-feira

Em que influênciam as primeiras Aprendizagens?

Aprender é conduzir a criança de um patamar de ignorância ou pouco saber para um conhecimento aumentado. O motor do desenvolvimento humano é o relacionamento com os outros, que surge ainda no meio intra-uterino.
O primeiro aprender consiste no agarrar afectuoso do bebé pela sua mãe e desta pelo seu bebé, que representa uma paixão sentida por ambos, que dá ímpeto para a avidez do conhecimento que a criança virá a mostrar.
O bebé possui representações fundadoras do seu corpo e do que sente, mas é a mãe que funciona como matriz organizadora exterior fornecendo-lhe representações ou saberes fundadores que iram servir de base para os futuros saberes. O bebé necessita inicialmente que o seu corpo e o seu sistema nervoso estejam capacitados, cabendo à mãe promover esse desenvolvimento, através do acolhimento, suporte, contenção e estimulação, mas a criança necessita também de calma e segurança para se poder organizar.
Com o crescimento, a criança vai fazendo aquisições que conduzem ao seu desenvolvimento. A díade mãe-bebé aprendem pela brincadeira, pelo entendimento fácil, onde um inicia e o outro repete, mas acrescenta qualquer coisa aumentando a sua complexidade.
Ao ¾ meses, o bebé vai dirigindo o seu interesse por outros objectos de fascínio sem ser a mãe, mas é esta que facilita a apropriação por parte da criança desses objectos. Desta forma, o bebé vai criando um espaço psíquico próprio, que o permite adquirir capacidade de descobrir e pensar por si.
Começa a distinguir, o pai da mãe e posteriormente diferencia sexos e sentimentos.
Surge a simbolização, que permite através do jogo e da brincadeira, construir diferentes perspectivas do mundo e colocar perguntas.
Ao contrário do que muitas vezes pensado, não é a necessidade, mas o prazer e a vontade de desvendar segredos e descobrir tesouros, que funcionam como propulsor de saber, ao nível do prazer de brincar e do saber a sério.
O bebé necessita de adquirir os saberes fundadores para posteriormente ir adquirindo os saberes mais complexos, como é o caso dos saberes escolares e relacionais. Se a criança apresenta falhas a estes níveis, verifica-se muitas vezes também falhas nos saberes fundadores, essencialmente devido às matrizes organizadoras (suporte, acolhimento, contenção, segurança e organização) não fornecidas eficazmente pela mãe.
O bebé tem de aprender a lidar com as frustrações, que só se consegue de acordo com as relações de entendimento que vai construindo ao longo do seu desenvolvimento, atingindo a criança elevados patamares de confiança. Não existe desenvolvimento sem crises e sem ir encontrando soluções para os problemas que surgem.Resumindo, a criança precisa de estar próxima da mãe, emaravilhar-se por ela, apaixonar-se pelo mundo, descobrir o prazer de tocar, mexer, atirar, descobrir o seu corpo e o dos outros, descobrir a alegria, descobrir que aquilo que deixou de ver ou de ouvir não deixou de existir (permanência do objecto, por volta dos 9 meses), sentir-se seguro e confiante, descobrir a eficácia e o prazer de comunicar, inicialmente através da mímica e dos sons e posteriormente da linguagem verbal e escrita. No fundo, precisa de aprender como é bom saber sempre mais.

Rute Borges

segunda-feira

Disciplina : O Presente dos Pais

Para além do amor, a disciplina é o maior presente que se pode dar a uma criança, de forma a ela adquirir limites, a se sentir segura.
A disciplina tem de ser adaptada a cada criança e deve ser equilibrada. São necessárias regras e expectativas claras e conscientes e as consequências do seu desrespeito devem fazer-se sentir com firmeza, tendo em conta a idade da criança.
Existem 5 pontos essenciais, segundo Brazelton, que a criança deve desenvolver:
O auto-controlo: reconhecer os seus próprios impulsos, como são desencadeados, como podem magoar os outros e como os controlar.
O reconhecimento dos seus sentimentos e daquilo que lhes está subjacente: identificá-los, expressá-los ou mantê-los escondidos, se for necessário.
A percepção dos sentimentos dos outros: compreender as suas causas, preocupar-se com aquilo que eles sentem e reconhecer o efeito que os seus actos têm sobre os outros.
O desenvolvimento de justiça e a motivação para se comportar de forma justa.
O altruísmo: a descoberta da alegria de dar, e até de fazer sacrifício por outros seres humanos.

Até aos 6 meses o bebé deve aprender a organizar-se, aprender a usar os estados de sono, alerta, birras, choro, de acordo com as suas necessidades. Deve aprender a acalmar-se e adormecer para recuperar energias, proteger-se das luzes e barulhos intensos, chorar de forma diferente conforme as suas necessidades, a olhar fixamente quem o cuida de forma a dar a entender o quanto são importantes para ele, aprendendo a conhece-los cada vez mais.
Cada bebé aprende a combinar as suas próprias estratégias com as que os pais usam.
3/4 Meses: aprende a entreter-se sozinho e a tentar lidar com as suas frustrações.
7/8 Meses: Necessidades de limites, ensinar o perigo e a segurança. Surge o medo dos estranhos, que demonstra um salto no desenvolvimento da inteligência da criança, pois já distingue o que lhe é familiar e o que lhe é estranho, onde se deve dar espaço à criança para o conhecer, sem forçar e esperar que as boas maneiras surjam depois.
9/12 Meses: reconhecimento do rosto dos pais, de forma a perceber o que se está a passar, incluindo o seu próprio comportamento, usando o comportamento não verbal dos pais (tom de voz, expressão facial, gestos) para se sentirem seguras e orientadas. Surge a disciplina a sério e não apenas a distracção que até então bastava. Exige-se firmeza. A desobediência é um processo de tentativa e erro e não apenas uma afronta aos pais. São necessárias mensagens claras e consistentes, fornecendo-se a mesma resposta a situações semelhantes. Por exemplo, se a mãe diz não mexe, quando a criança mexe no comando da televisão, mas ao mesmo tempo ri, eles vão faze-lo na mesma. A resposta tem de ser clara e condizente com o discurso não verbal.
As crianças aprendem pela repetição, precisando que os pais digam não até a lição ser aprendida, sentindo-se os pais frustrados, pela criança ouvir inúmeras vezes não e continuar.As crianças testarão os pais de forma a perceber se é sempre não, ou se foi só daquela vez, ou da outra, mas será sempre? A criança pensa, pode ser que seja desta que a minha persistência vai ser recompensada!
No exemplo do comando, a criança compreende que cada botão serve para um resultado diferente, será que para todos é não? Ou será só para aquele que faz a televisão gritar? Porque o pai pode e eu não? O facto das regras serem diferentes em diferentes locais e para diferentes pessoas é difícil ser apreendido por uma criança tão pequena!!!
Com o seu crescimento as regras vão-se alterando, se umas se alteram, será que todas se alteram? Será que já posso mexer nos botões do fogão? Na faca? Na tesoura?
Será que o não do pai é igual ao não da mãe? Se não, o que significa essa diferença?
Se pensarmos em tudo o que estamos a pedir que as crianças aprendam, facilmente percebemos o porque da necessidade da repetição, da clareza e da consistência.
12/14 Meses: Descoberta de novas habilidades que exigem disciplina, pois não está segura de como as utilizar em segurança. Percebe que pode escolher entre o fazer e o não fazer e surgem as birras para testar os limites de tolerância dos pais, tornando-se necessário que ela aprenda a controlar-se sozinha, sendo pertinente os pais se afastarem (sair de cena) incentivando o auto-controlo, como que a dizer és capaz de te controlar sozinha. Se o local não for propicio ao afastamento, é essencial que se abrace a criança, em abraço de cesto, envolvendo-a, com um abraço seguro, mas indolor, falando-lhe baixinho sem gritar, pois isso desencadeia o aumento da birra, por processo de imitação. Mas como o objectivo é a auto-disciplina, é essencial o diálogo sobre o que se passou posteriormente, dizendo o que pode fazer para se acalmar.
2/3 anos: Descobre a causa e o efeito, se caio, magoo-me, se deixo cair algo, parte-se, entre outros e sendo ainda necessário a presença dos pais para suprimirem a sua falta de discernimento. Torna-se essencial o ensino do controlo dos impulsos que existe pela curiosidade em explorar o meio, através da repetição e sempre da explicação e em último a acção de impedimento, de forma a ele perceber que um dia o fará sozinho, com toda a motivação necessária. Estará a estabelecer alicerces de aprendizagem para os anos subsequentes!
Presença de sentimentos contraditórios e desejos inatingíveis, que tenta conhecer, perceber e reagir até aprender a controlar as suas emoções. Precisa de se acalmar, controlar a situação e procurar uma solução, tendo por base o comportamento dos adultos.
Por volta dos 3 anos pensa sobre os seus pensamentos, permitindo aos pais, explicarem o que os outros sentem quando ele tem determinadas atitudes, o que até então não era possível, juntando a isto alternativas construtivas ao seu comportamento.
Anos seguintes: Aparecimento do desenvolvimento moral, onde os pais apresentam a lei de maneira a demonstrar a sua justiça e a razão da sua existência, em vez de apresentar a consequência de forma a mostrar o seu poder sobre a criança.
Se ensinarmos as crianças a obedecer a regras porque elas são justas e não porque tem poder, estaremos a prepará-las para respeitarem a lei, quando o poder dos pais já não for suficiente ou mesmo quer haja ou não pessoas a ver. A firmeza demonstra que as regras se mantêm pela sua própria importância e não mudam consoante sentimentos ou desejos de cada criança.
O objectivo dos pais é ajudar a criança a utilizar a crescente empatia para fazer a coisa certa para seu próprio bem, mesmo que os adultos não estejam lá para punir, caso não o faça.
Devemos ajudar os nossos filhos a encontrarem a sua própria motivação para se conduzirem de acordo com um código moral. Mais cedo ou mais tarde, serão demasiado crescidos para que estejamos sempre presentes a impor a disciplina quando se portam mal. Os nossos filhos precisam de ter a certeza de que tornaram seus os valores que lhes oferecemos.

Rute Borges

domingo

O porquê da educação para a autonomia

A autonomia tem por base o grau de segurança que se estabelece no 1º relacionamento social, ou seja, mãe/pai/bebé. Este é considerado o ingrediente mais influente na criação dos protótipos internos que ajudaram a moldar todos os laços interpessoais íntimos formados pelo indivíduo nos anos seguintes.
É fundamental ser o bebé tomar o comando na interacção, de forma a permitir reforçar o seu sentimento de competência e assume a possibilidade de controlar voluntariamente todo o seu desenvolvimento. Como resultado, a criança percepciona-se como competente e segura.
Uma criança segura, é uma criança consequentemente mais competente e mais madura social e cognitivamente, conduzindo a uma elevada auto-estima e um maior auto conhecimento, transportando para a personalidade da criança uma maior versatilidade, cooperação, sociabilidade, popularidade, confiança, tolerância à frustração, controlo de impulsos, capacidade na resolução de problemas e consequente independência.
Uma criança super protegida é uma criança obrigatoriamente, a meu ver, infantilizada exacerbadamente, que não tem autonomia, não tendo competências para enfrentar o mundo real. Não terá maturidade nas brincadeiras, curiosidade para aprender, necessidade de procura, diminuindo o seu entusiasmo pelo o que a rodeia, que afectará a sua capacidade em perceber e solucionar todos os problemas que se vai deparando. Assim, estas crianças tornam-se dependentes de outros para conseguirem atingir os objectivos que lhe são exigidos. Crianças dependentes serão adolescentes com maiores dificuldades, essencialmente no que diz respeito à tolerância à frustração, que as podem levar a seguir caminhos diversos dependendo não só dessa educação parental, como também da relação com os seus pares. Tudo isso irá influenciar o que serão quando adultos, podendo se tornar realmente independentes, mas a que custo!
Mas será que existem idades próprias para fazer determinadas aquisições? Por exemplo, deixar de mamar, dormir sozinho, comer sem ajuda ou largar as fraldas?
Na minha opinião, não existem limites para a amamentação. É de conhecimento geral a importância para a criança do leite materno, mas para além de alimento, é um excelente meio de vinculação mãe bebé, que se poderá prolongar no tempo, enquanto a díade achar conveniente.
É importante desde o nascimento que os pais ensinem o bebé a dormir, sendo capazes de se distanciar dele, dando-lhe a oportunidade de aprender a tornar-se independente durante o sono. O bebé precisa de ter confiança para aprender a confortar-se sozinho para conseguir adormecer sem intervenção de outrem. Este é um longo caminho para a autonomia, que não deve ser radical, pois durante nove meses, este esteve habituado a ser embalado com movimentos, cheiros e vozes. Progressivamente, cabe aos pais, consoante a criança e a sua maturação, indicar-lhes o caminho para a independência. A criança deverá ser deitada no berço, sonolenta com os pais por perto, fazendo-lhe festas, falando com ela, incutindo-lhe a capacidade de adormecer sozinho, com palavras de reforço. Progressivamente e através de rotinas, esta intervenção vai diminuindo, consoante as necessidades do próprio bebé, encorajando-a a utilizar os seus próprios métodos, tornando-se esta autónoma.
Quando é feita a introdução dos sólidos, as crianças devem começar a comer numa cadeira de frente para os pais, mantendo sempre o contacto visual. Deve ser dada à criança a oportunidade de mexer, cheirar os alimentos que lhe são oferecidos de forma a que esta não se sinta enganada devido às diferenças existentes entre este tipo de alimentação e a anterior. Deve igualmente ser oferecida uma colher à criança, para que ela própria imite os pais, oferecendo-lhes comida também a eles. Quando o desenvolvimento motor estiver mais integrado e a criança tenha a capacidade de pinçar correctamente e levar a mão à boca eficazmente, tudo isso acaba por acontecer naturalmente pela própria necessidade que a criança tem de o fazer.
Só a criança pode decidir quando chegou a altura de controlar as suas necessidades. Antes de tudo isso é necessário que a criança tenha atingido outras importantes capacidades cognitivas, que a permitam fazer a aprendizagem do controlo de necessidades, que normalmente só acontece por volta dos 2/3 anos. Assim é importante dar a conhecer à criança a existência do bacio, demonstrarem à criança as rotinas diárias da ida ao bacio, explicando-lhe que também os pais o faz todos os dias, deixando a criança mostrar interesse e estabelecer a altura indicada para passar à fase seguinte, sem pressões. Cabe apenas aos pais mostrar o caminho para que ela por si própria treine sozinha, tendo como trunfo a necessidade que os filhos têm de imitar e identificarem-se com os pais que constituem a sua referência.
O que acontece normalmente nestes casos, é que os pais querem que as crianças sejam autónomas de um momento para o outro, sem nunca lhes terem ensinado como isso se faz.
É necessário que a autonomia lhes seja ensinado, assim como aprenderam a falar, andar, ou seja, como todas as aquisições. A autonomia é uma aquisição como tantas outras.
Uma criança habituada à amamentação, que lhe seja retirada abruptamente terá dificuldades em gerir essa frustração, sendo necessário que esta seja feita progressivamente, o que não acontece muitas das vezes.
No que diz respeito a dormir sozinho, só bastante tarde os pais se lembram da importância desta capacidade e querem que eles o façam logo que sentem essa necessidade, surgindo frustrações de ambos os lados que acabam por conduzir a lugar algum. O mesmo se passa com o largar das fraldas. As crianças ficam impacientes, fazem birras, rejeitam o bacio, por serem excessivamente pressionados para uma aquisição rápida, só porque simplesmente os pais acham que chegou a altura.
Quanto ao comer sozinhos, muitas das vezes quando a criança demonstra interesse e curiosidade nos alimentos, tudo isso lhe é negado, não lhe dando hipótese de escolha, sendo transmitindo à criança que isso não é da sua competência, integrando a criança isso como regra. Tudo isso se tornará mais difícil, quando os pais, sem treino e familiarização o exigirem à criança.
Com o aumento das cidades, da população e da consequente insegurança e criminalidade, cada vez é menor o espaço que é dado à criança para explorar, não lhe sendo fornecido a noção do medo e consequentemente de limites transponíveis e intransponíveis. Com a (in)evolução das sociedades, cada vez mais os pais se tornam mais protectores ao nível físico, não permitindo ás crianças o conhecimento do ambiente que as envolve, não lhes dando a oportunidade de escolher o melhor ou o pior caminho. Tudo isso é lhes imposto e só mais tarde, tarde demais a meu ver, é lhes exigido sem “rede” enfrentar os perigos e ter capacidade de escolha. Desta forma, estas, não adquirem competências necessárias para o fazer da melhor forma. Ao mesmo tempo é dado à criança autonomia num reduzido espaço, como é o caso do ciberespaço, sem muitas vezes ser explicado os possíveis riscos por de trás de um ecrã. A criança não conhece a realidade do mundo em que vive, não reconhece os perigos escondidos, não tem medos e uma criança sem medos e sem conhecimento é uma criança em perigo e naturalmente em risco. Será em criança, em adolescente e muito provavelmente em adulto.
Parece-me igualmente relevante evidenciar a influência da falta de tempo existente nos dias de hoje, para uma educação para a autonomia. Embora exista cada vez mais informação e interesse por parte dos pais no que diz respeito à melhor forma de educar os seus filhos, a educação para a autonomia, exige tempo e empenho, que não existe muitas vezes, o que irá afectar toda essa conquista.

Rute Borges
Pais & Filhos - Abril 2006 (pg.80)

sábado

Terrores Noturnos

Um grito assustador, vem do quarto, a criança não reage aos esforços que os pais fazem para a acalmar. Mexe-se muito, balbucia, chora. Será que devo acordar?
Se a tentarmos acordar, vai olhar-nos à distancia, como se não estivessemos lá, embora possa parecer acordada. Ela não acorda ao nosso esforço pois não tem nenhuma necessidade especifica, é um processo natural.São chamados terrores noturnos, quase todas as crianças passam, umas mais outras menos, e surgem especialmente entre os 18 meses e os 6 anos, visto ser a fase onde as crianças dormem mais profundamente, com a idade, as crianças dormem menos profundamente e isto tende a diminuir até ao seu desaparecimento, indo surgindo os pesadelos. Os terrores noturnos, acontecem especialmente 2 horas depois da criança adormecer, quando o ciclo de sono profundo termina de repente e criança não desperta completamente. Nessa altura não há sonho e o cerebro não começa a formar memórias, o ritmo cardiaco aumenta, a respiração é rapida e pode ficar coberto de suor. Mas não tem nenhum sonho para contar nem tem memorias do seu terror. A unica coisa que os pais podem fazer é tentar diminuir os seus movimentos com delicadeza, embora isso os possa agitar ainda mais, sendo necessário que o espaço esteja livre de objectos que o possam magoar.
Não os devemos acordar, tentar, devagarinho que não se magoe e da-lhe tempo para ele se recompor e voltar a adormecer. Este tipo de terrores não causam problema nenhum, a não ser que os pais dêem demasiada importancia a tal e que isso se possa tornar um medo para a criança, visto esta se sentir embaraçada e pressionada.
Rute Borges

sexta-feira

Bebés Prematuros

Um bebé é considerado prematuro quando nasce antes da 36ª semana. Em Portugal, o limiar de sobrevivência é aproximadamente as 25 semanas. Nascem aproximadamente 1100 bebés prematuros por ano, em todo o país.

“ Um bebé que nasce de 25 semanas é do tamanho de um fio de esparguete, a cabeça equivale ao tamanho de uma bola de ténis, o peso é o aproximado ao de 2 laranjas médias (600g), uma aliança de senhora serve-lhe de pulseira e o sangue que lhe corre por todo o corpo equivale a um frasco de 50 ml de perfume”.

Existem factores de risco que podem estar ligados a partos prematuros, como alcoolismo, drogas, stress, fumadores, diabéticos, gravidez de gémeos, entre outros.

Quanto mais próximo dos 2 kg estiver menor serão os riscos. Um prematuro com grandes riscos será aquele que tenha menos de 1,5 kg.

O prognóstico de um bebé prematuro baseia-se em vários factores, como idade gestacional, peso de nascença e maturidade dos órgãos. Um bebé que nasce prematuro tem inúmeras complicações, pois o seu desenvolvimento não está completo e por conseguinte, não respira sozinho, não come sozinho, não é capaz de equilibrar a sua temperatura corporal, etc.

Existem estudos que mostram, que quando por razões diversas estes bebés prematuros não podem ter os pais ao pé de si, tanto quanto seria desejável, os enfermeiros e médicos substituem-nos. Pois, é sabido que um bebé numa incubadora “vazia de pais” tem menos probabilidades de um bom desenvolvimento. Deve-se enriquecer o mais possível o mundo envolvente, neste caso a incubadora, com bonecos, música, etc. Os pais devem ser incentivados a manterem uma interacção o mais rica possível com o seu bebé, apesar de todas as limitações que uma incubadora implica.

Estes bebés ficam afastados fisicamente dos pais. Sonham ter um bebé, sair da maternidade com ele nos braços, sonham com ele em casa...e vão para casa vazias, as mães são normalmente mães deprimidas, que se sentem culpadas e incapazes de dar o afecto que se esperaria, isso afecta tb o desenvolvimento deles. A mãe é normalmente uma mãe ansiosa, triste que passa essa ansiedade e tristeza para o bebé, que não vê um sorriso nos seus lábios, um toque seguro.

Tudo isto tem a ver com uma coisa chamada, vinculação que é afectada principalmente pela diferença entre o bebé sonhado pela mãe durante a gravidez e o bebé real que nasce, que necessita normalmente de cuidados, perturbadores de uma vinculação eficaz.

É importante ter em conta, que um parto antes do tempo, não só é prematuro para a criança, também o é para os pais, é sempre um choque e as reacções dos pais são diversas, dependendo de múltiplos factores e da própria personalidade dos pais.

Um bebé prematuro, não deve à partida ser considerado como um “bebé problema”, existem inúmeros factores a avaliar. As posteriores complicações no desenvolvimento dependem em grande parte do ambiente familiar em que essas crianças vivem.

Uma situação complicada para os pais, é estes imaginárem que o seu bebé está a sofrer, porque está todo ligado a tubos e a fios. Torna-se portanto, necessário apoiar os pais e explicar-lhes que de facto os bebés sentem um certo desconforto, mas que não sentem grandes dores porque estão anestesiados.

No 1º ano de vida, do ponto de vista, psicomotor, existem atrasos de desenvolvimento nos bebés prematuros em relação a bebés de termo, que pode durar até aos 4/5 anos. Ao nível emocional, devido ao risco, leva aos pais a não possibilitarem a autonomização.Existem estudos que descrevem as interacções dos bebés prematuros nos primeiros tempos (primeiros dias) após irem para casa, como menos próximas. Isto pode ser explicado pelo facto dos pais terem um pouco a tendência a tentar preservar um ambiente calmo para o bebé. Passados uns dias, quando os pais se apercebem de que está tudo bem, e ganham um pouco de confiança, as interacções tendem a aumentar.

É também de ter em consideração que estes bebés tendem a ser menos responsivos às interacções, o que também intervém.

Brazelton acredita que as capacidades de interacções e de estados de consciência são inferiores às dos bebés de fim de tempo.É tambem sempre relevante, no que diz respeito às respostas dadas às interacções, as próprias características de cada criança (existem umas mais calmas outras mais dispertas).

Tudo isto pode ser resolvido, através da maturação dos bebés e da respectiva ajuda aos pais que por sua vez ajudaram os bebés. Um bebé prematuro que tenha uma hiper-estímulação por parte dos pais pode andar mais cedo, falar mais cedo do que outras crianças que não tiveram problemas de parto.

Rute Borges

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